EUA dão US$ 320 milhões a afegãos Ajuda a refugiados tem o objetivo de mostrar que a guerra é contra o terrorismo e não tem conotação religiosa Em uma estratégia calculada para tirar qualquer conotação de guerra religiosa das ações norte-americanas, os Estados Unidos anunciaram ontem que destinarão US$ 320 milhões para assistência humanitária à população do Afeganistão. A assistência aos afegãos, milhares deles refugiados em precárias condições no Paquistão, está mobilizando uma série de países e organizações. O primeiro avião com ajuda humanitária da Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, procedente da Espanha, chegou na noite de ontem ao aeroporto paquistanês de Peshawar (Noroeste). O avião, financiado pela Agência de Cooperação Internacional Espanhola, entregou 35 toneladas de mantimentos, entre barracas, biscoitos energéticos, recipientes para água e utensílios de cozinha. O objetivo da Cruz Vermelha é armazenar, por enquanto, toda a ajuda em Peshawar. Outros aviões devem chegar ao Paquistão nos próximos dias, com mais ajuda de países como Irã, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Bélgica, Grã-Bretanha e Estados Unidos. O Japão anunciou que entregará à ONU 20% dos US$ 584 milhões pedidos pela organizção para prevenir a catástrofe. Os primeiros dos cerca de 300 aviões que os Estados Unidos têm estacionados nas proximidades do Afeganistão devem começar a penetrar o espaço aéreo do país nos próximos dias. Estarão carregados de rações militares e sacos de alimentos em vez das bombas que os americanos gostariam de jogar em Osama bin Laden e seus protetores do Talibã. Os EUA planejam operações para lançar os pacotes de alimentos dos aviões. – É a nossa maneira de dizer que, ao mesmo tempo em que nos opomos firmemente ao regime do Talibã, somos amigos do povo do Afeganistão. Vamos trabalhar com as agências das Nações Unidas e com organizações voluntárias privadas para garantir que a assistência chegue ao povo – disse Bush. A iniciativa humanitária é o mais recente componente da guerra psicológica que os EUA iniciaram para desestabilizar o regime do Talibã. Nesta estratégia, o país utilizará pela primeira vez o território do Irã para enviar diretamente a ajuda aos afegãos, disse ontem Andrew Natsios, diretor da agência pública de ajuda norte-americana (Usaid). – Os iranianos são entusiastas. Foram contatados por meio do Programa Mundial de Alimentação, da ONU, e responderam sim. Cerca de 1,5 milhão da população de aproximadamente 23 milhões já deixou o Afeganistão. Entre 2 milhões e 3 milhões deixaram suas cidades e aldeias e tomaram o rumo das fronteiras com Irã, Tadjiquistão e Paquistão. Três anos de seca aumentaram o drama humano de uma população extremamente pobre, que vive as conseqüências de guerras externas e internas há duas décadas e, segundo a ONU, enfrenta a ameaça da fome. Para piorar o drama, uma doença altamente contagiosa, a febre hemorrágica da Criméia-Congo, que pode levar os pacientes a sangrar até a morte, está assolando a fronteira do Paquistão com o Afeganistão. Médicos declararam ontem temer uma epidemia. – São 60 casos desde junho. Oito pessoas morreram. É algo que mal conhecíamos – disse Taj Mohammed, médico do Hospital de Tórax Fatima Jinnah, em Quetta, Paquistão. O surto da doença pode ser o maior do mundo. Os sintomas são semelhantes aos do vírus Ebola.